Se você investe no Tesouro Direto ou está pensando em começar, precisa ficar ligado numa mudança que vai balançar o coreto em 2026. O governo acaba de soltar uma medida provisória que vai unificar a tributação em 17,5% para todos os títulos públicos, independente do prazo que você deixa o dinheiro aplicado.
Como alguém que acompanha o mercado financeiro há anos e já viu várias mudanças tributárias passarem, posso dizer: essa é daquelas alterações que parecem simples no papel, mas mexem com toda a estratégia de investimento. Vamos destrinchar tudo isso de forma clara e prática.
O Que Está Mudando Exatamente no Tesouro Direto?
A Situação Atual (Até 2025)
Hoje, quando você investe no Tesouro Direto, o Imposto de Renda segue uma tabela regressiva que premia quem tem paciência:
- 22,5% para aplicações de até 180 dias (6 meses)
- 20% de 181 a 360 dias (6 meses a 1 ano)
- 17,5% de 361 a 720 dias (1 a 2 anos)
- 15% acima de 720 dias (mais de 2 anos)
É como se o governo dissesse: “Quer investir a longo prazo? Vou te dar um desconto no imposto!”
A Nova Regra (A Partir de Janeiro de 2026)
A partir de 1º de janeiro de 2026, todos os novos investimentos no Tesouro Direto terão alíquota única de 17,5%, não importa se você resgatar em 1 mês ou 10 anos.
Importante: Se você já tem títulos comprados até 31 de dezembro de 2025, eles continuam seguindo as regras antigas até você resgatar. É como se fosse um “direito adquirido”.
Como Isso Afeta Diferentes Perfis de Investidor
Para Quem Investe a Curto Prazo (Até 1 Ano)
🎉 Boa notícia! Se você costuma resgatar seus investimentos em menos de um ano, vai pagar menos imposto:
- Antes: 22,5% ou 20%
- Depois: 17,5%
Para Quem Investe a Longo Prazo (Mais de 2 Anos)
⚠️ Atenção aqui! Quem deixava o dinheiro aplicado por mais de 2 anos e pagava apenas 15% vai sentir o impacto:
- Antes: 15%
- Depois: 17,5%
É um aumento de 2,5 pontos percentuais, que na prática significa menos dinheiro no seu bolso.
Simulação Prática: O Que Isso Representa no Seu Bolso
Vamos para um exemplo real para você entender o impacto:
Cenário: Investimento de R$ 10.000 no Tesouro IPCA+ 2029, com rendimento anual de 6% ao ano + IPCA
Resgate Após 6 Meses
- Regra atual: IR de 20% = R$ 60 de imposto*
- Nova regra: IR de 17,5% = R$ 52,50 de imposto*
- Diferença: Você ganha R$ 7,50
Resgate Após 3 Anos
- Regra atual: IR de 15% = R$ 270 de imposto*
- Nova regra: IR de 17,5% = R$ 315 de imposto*
- Diferença: Você perde R$ 45
*Valores aproximados para fins didáticos, considerando rendimento bruto de R$ 1.800 no período.
A Grande Novidade: Compensação de Prejuízos
Aqui vem uma mudança que pode ser um game changer para quem diversifica investimentos:
Como Funciona a Compensação
A partir de 2026, você poderá compensar perdas de qualquer investimento com alíquota de 17,5% – isso inclui:
- Tesouro Direto
- CDBs
- LCIs e LCAs
- Fundos de investimento
- Ações (que já tinham essa regra)
Exemplo Prático da Compensação
Imagine que em 2026 você:
- Ganhou R$ 1.000 no Tesouro Direto (IR retido: R$ 175)
- Perdeu R$ 500 em ações
Com a nova regra, você pode compensar essa perda de R$ 500, reduzindo sua base de cálculo para R$ 500. Resultado: você pode ter direito a restituição de parte do IR retido.
Estratégias Para Aproveitar as Mudanças
1. Planeje Suas Aplicações de 2025
Se você tem planos de investir a longo prazo, considere antecipar seus investimentos para dezembro de 2025 e garantir a tributação atual de 15% para prazos superiores a 2 anos.
2. Organize Seu Controle Financeiro
Com a possibilidade de compensação de perdas, vai ser fundamental ter um controle detalhado de:
- Todas as operações financeiras
- Lucros e prejuízos realizados
- Comprovantes de perdas
3. Diversifique Conscientemente
A nova regra pode tornar mais atrativa a diversificação entre diferentes classes de ativos, já que as perdas em uma podem compensar os ganhos em outra.
Opinião dos Especialistas: Vale a Pena ou Não?
Como destaca Rodrigo Sgavioli, head de alocação da XP, a mudança tem dois lados:
Lado positivo: Simplificação dos cálculos e maior clareza para o investidor.
Lado negativo: Remove o incentivo para investimentos de longo prazo, que historicamente são mais benéficos para a economia.
Na minha visão como entusiasta de tecnologia financeira, vejo essa mudança como um trade-off típico de políticas públicas: ganha-se em simplicidade, mas perde-se em sofisticação de incentivos.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. A mudança afeta investimentos que já tenho?
Não. Títulos comprados até 31 de dezembro de 2025 mantêm a tributação atual até o resgate.
2. Quando a nova regra entra em vigor?
1º de janeiro de 2026 para novos investimentos.
3. Posso compensar prejuízos de ações com ganhos do Tesouro?
Sim. A partir de 2026, será possível compensar perdas entre diferentes classes de ativos com alíquota de 17,5%.
4. Vale a pena investir no Tesouro Direto em dezembro de 2025?
Depende do seu prazo. Se planeja resgatar em mais de 2 anos, pode valer a pena garantir a alíquota de 15%.
5. Como comprovar perdas para compensação?
Você precisará manter todos os comprovantes de operações financeiras e apresentá-los na declaração do IR.
6. A mudança afeta outros investimentos de renda fixa?
Sim. A unificação em 17,5% vale para diversos produtos de renda fixa, não apenas o Tesouro Direto.
O Que Fazer Agora: Seu Plano de Ação
Curto Prazo (Até Dezembro 2025)
- Avalie seus investimentos atuais no Tesouro Direto
- Considere antecipar aplicações de longo prazo
- Organize seu controle financeiro para 2026
Longo Prazo (2026 em diante)
- Adapte sua estratégia à nova tributação
- Implemente um sistema de controle de perdas e ganhos
- Estude novas oportunidades de diversificação
Conclusão: Mudança de Jogo ou Tempestade em Copo d’Água?
A unificação da alíquota do Tesouro Direto em 17,5% é daquelas mudanças que não revolucionam o mercado, mas definitivamente alteram as regras do jogo.
Para investidores de curto prazo, é uma boa notícia. Para os de longo prazo, representa um pequeno obstáculo – mas nada que inviabilize o Tesouro Direto como uma excelente opção de investimento.
O mais importante é adaptar-se e planejar-se. Como sempre digo: no mundo dos investimentos, quem se informa e se organiza sai na frente.
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